Faz tempo que disse que meu próximo post seria sobre alimentação. Depois disso veio a pandemia e meu cronograma embolou geral. Desculpem-me, mas antes tarde do que nunca, cá estou.
Faz tempo que pesquisadores de todo o mundo tem estudado amplamente sobre o que a sociedade moderna vem consumindo. As pessoas começaram a questionar o que comem e, cada vez mais, nos surpreendemos com a quantidade de química que silenciosamente ingerimos em doses diárias.
A rotina corrida da vida deixa pouco tempo para as refeições. As pessoas simplesmente comem, não se alimentam. Segundo o Dicionário Aurélio, comer significa ingerir qualquer coisa, matar a fome. Já alimentar significa nutrir, comer algo saudável para o organismo. Gosto de uma afirmação da pesquisadora e escritora Conceição Trucon (2014, p34) que diz “[...] quando a alimentação está alinhada as necessidades de construção da energia e da harmonia metabólica, temos como consequência a saúde em todos os níveis existenciais: física, emocional, mental e espiritual”. E não é a toa que uma das frases de impacto que usamos aqui no Quintal é “Você é o que você come”!
A alimentação para ser considerada saudável deve ser nutritiva, rica em alimentos celulares, de fácil digestão (sem toxinas, aditivos, refinados), desintoxicante (ajudando o organismo a eliminar excretos) e prazerosa. Entretanto, nas grandes cidades o nutritivo cede lugar ao prático. Sem tempo de cozinhar, as refeições são realizadas rapidamente através do consumo de lanches ou congelados. Nos tempos atuais a comida caseira perdeu espaço para o fast food, ou easy food, ou seria pro i-food? Tudo junto e misturado, né, pessoal?
Ok, você cozinha em casa, ótimo! Entretanto, mesmo a comida caseira, com a utilização de hortaliças compradas em grandes centros de compras possuem valor nutritivo abalado por terem sido cultivadas com agrotóxicos. Segundo Trucon, o relatório do Environmental Working Group informa que quando uma criança completa um ano de idade, já recebeu a dose máxima de agrotóxicos que seria permitida para a vida inteira. Já um estudo de 2003 desenvolvido pela Universidade de Washington, revelou que crianças que comiam vegetais e frutas orgânicas apresentavam concentrações de pesticidas seis vezes menores que as que consumiam produtos de cultura intensiva.
A autora citada também relata que uma equipe da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, analisou amostras de urina de crianças entre três e onze anos alimentadas com produtos orgânicos e confirmou que os níveis de metabólitos de Malathion[1] e Clorpirifós[2], dois pesticidas de uso tradicional nas culturas convencionais eram praticamente nulos. Entretanto, depois que elas voltaram a ingerir alimentos não orgânicos, os metabólitos rapidamente aumentaram.
[1] Malathion (C10H19O6PS) é um inseticida utilizado para matar insetos em explorações agrícolas e em jardins, também usado para tratar piolhos na cabeça de seres humanos e para tratar pulgas em animais domésticos. Usa-se também para matar mosquitos e a mosca da fruta em extensas áreas ao ar livre.
[2] Clorpirifós (C9H11Cl3NO3PS) é um insecticida que inibe a a transmissão dos receptores do sistema nervoso. É utilizado para controlar vários tipos de insetos e pragas, sendo moderadamente tóxico. Já foi atribuído ao uso deste químico, efeitos neurológicos, atrasos e problemas no desenvolvimento de crianças, assim com problemas no sistema auto-imune.
As técnicas modernas de cultivo, que apostam em produtividade e ganhos em massa, adotam a utilização de químicos para matar e repelir pragas e usam nutrientes para acelerar o crescimento. Já a produção orgânica produz alimentos com mais minerais, vitaminas, limpos de químicos e nutricionalmente adequados. Bóra plantar pra colher amigos! E vou dizer uma coisa, é uma cachaça, kkk! Começa com um vaso, dois, e quando você se dá conta está com jardineiras, sementeiras, canteiros espalhados produzindo alimentos. Plantar e coçar, é só começar!
Pra finalizar não posso deixar de falar na polêmica sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, referência nacional e internacional para a promoção da saúde e indicador de políticas públicas. Bom, nossa Ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento enviou um ofício ao Ministro da Saúde solicitando a urgente revisão deste guia SEN-SA-CI-O-NAL! Vou deixar o pdf para download aqui.
O ofício é acompanhado de uma nota técnica que tenta negar as evidências científicas que atestam os malefícios à saúde provocados pelos produtos ultraprocessados, contrariando um conjunto consistente de inúmeras evidências científicas produzidas por pesquisadores de instituições amplamente respeitadas, não só no Brasil mas em todo o mundo.
Infelizmente, o Guia Alimentar do Brasil vêm sendo alvo de críticas veladas por parte da indústria de alimentos no mundo todo desde que foi publicado. O motivo é a sua posição "radical" na restrição do consumo de alimentos ultraprocessados.
Publicado em 2014, é fruto da cooperação técnica entre a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição, do Ministério da Saúde, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (NUPENS-USP) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O guia chegou à versão final após diversas reuniões com vários setores da sociedade civil, acadêmicos e profissionais de diferentes áreas e ainda uma consulta pública. Seu embasamento científico e abordagem simples e prática tem acumulado reconhecimento nacional e internacional e tem inspirado a elaboração de Guias Alimentares em outros países, como o Canadá, por exemplo.
Pra quê mexer? Pra dizer que alimento ultraprocessado não é ultraprocessado, é processadinho e não faz tão mal? Um trecho da nota técnica cita que "o Guia induz a população brasileira a uma limitação da autonomia das escolhas alimentares" e "não alerta que uma alimentação que utiliza 'sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias é perigosa". Realmente não consigo entender a segunda frase... eles dizem que os alimentos in natura podem ser perigosos? É sério isso? Sim, triste mas está lá no ofício.
Carlos Monteiro, coordenador do NUPENS comentou em reportagem para o Globo Rural que “há uma questão meio corporativa por trás disso" e afirmou que "a única categoria no Brasil de técnicos que se opõe ao Guia Alimentar é a dos engenheiros de alimentos, porque o mercado de trabalho deles é essa indústria de alimentos ultraprocessados". Essas empresas financiam toda a pesquisa que eles fazem. Então, eles têm uma dependência umbilical dessa indústria”, nas palavras de Monteiro.
Gente, as vezes um ultra processadinho até rola, quem nunca? Confesso que amo a batata Lays Sour Cream. É uma bomba tóxica? É. Eu me alimento super bem, minhas refeições são coloridas e o mais in natura possível, então as vezes, tudo bem. Só que eu sei que faz mal pra mim, e foi a minha escolha, não estou sendo enganada, estou me drogando com consciência, kkkk! Agora, não venham nos enganar e tentar mudar a classificação dos alimentos in natura, processados e ultraprocessados, ok?
A alimentação é um direito reconhecido em nossa Constituição Federal (artigo 6º) e nossos governantes devem zelar por ela, pois ela zela por nós. Vamos ficar de olho amigos, este guia é muito bacana e embasa práticas da merenda escolar, refeitórios empresariais entre outros. Vamos fazer valer nossos direitos e vamos plantar, porque “quem planta os males espanta”, e tem muita coisa ruim pra espantar, né?
P.S. Este gurizinho da foto é meu primo-sobrinho, amado, queridão e baita figura! Ele está na horta da avó, que começou a hortar na pandemia, com ajuda do Quintal Urbano! Saber que ele não teria contato com uma horta se não fosse a iniciativa da vovó me dá uma sensação maravilhosa, meus olhos lacrimejam... Com certeza ajudamos muita gente a se conectar com a natureza e ter uma alimentação mais natural, nutritiva e saborosa. Sigamos em frente e avante!
Abraços com aroma de lavanda!
Márcia carneiro Luiz Designer de Produto, Administradora de Empresas, Mestre em Design, CEO Quintal Urbano
Comentarios